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 Song of the Dark



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Estudo

 

O MITO

Como podemos entender o vampiro? Ele é um mito, uma lenda, uma estória romântica de escritores góticos? Ou o vampiro é baseado em fatos?

A noção popular do vampiro é largamente baseada no clássico filme "Dracula", de 1931, com Bela Lugosi. Em nossas mentes, o vampiro é sofisticado, europeu, geralmente um nobre, que vive num castelo sempre leva uma "vida" de luxo, cercado de coisas finas... mas que nunca bebe... VINHO. O vampiro tem gosto por "algo mais", e é isso que realmente o separa de nós. O SANGUE. O vampiro deve beber sangue fresco tirado de pessoas vivas, pois ele não o tem.

Em tempos mais recentes, o conceito do vampiro veio para a América, para Nova Orleans. O Lestat de Anne Rice e seus companheiros do filme e livro "Entrevista com o Vampiro" também são sofisticados, mas diferentes do Conde Dracula. Eles são inteligentes, elegantes, cultos, mas também selvagens. E mais: eles são sensuais e atraentes. Este é um elemento significante de nosso conceito moderno de vampiro, o elemento que o separa dos "outros monstros": Vampiros possuem SEX-APPEAL.

Mas a sede de sangue e o erotismo não são os únicos aspectos do vampiro. E também não são a chave. O elemento chave do vampiro é a morte. As questões eternas dos humanos sobre a morte, nossa ansiedade e nossos pesadelos sobre essa inevitabilidade (de morrer) alimenta as estórias de vampiros.

"O sangue é vida", disse o Dracula encarnado por Bela Lugosi (uma frase bíblica, aliás). E essa antiga discussão sobre vida, morte e sangue é o que explica a antiguidade do mito também. O primeiro vampiro não foi Conde Dracula. Os primeiros vampiros tiveram suas origens séculos antes de Cristo. Cristo aliás, que tem sido o grande adversário dos modernos vampiros "satânicos" - lembre-se, os vampiros tremem diante da cruz sagrada.

A lenda do vampiro data das primeiras civilizações, como os Assírios, os Babilônicos, e outros povos do Oriente antigo. O vampiro original não era o suave e sofisticado aristocrata europeu que conhecemos hoje.

O vampiro, em sua origem, era um monstro.

 

VAMPIROS HISTÓRICOS

 

Como o vampiro surgiu? Como todas as lendas, a exata data da origem é desconhecida, mas a evidência do conto do vampiro pode ser encontrada com os antigos Caldeus na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, e com escritos Assírios no barro ou em pedras. A terra dos Caldeus também é chamada de Ur dos Caldeus, que era a terra de origem de Abraão, na bíblia.

"Lilith" foi possivelmente uma vampira da bíblia hebraica e suas interpretações. Embora ela seja descrita no livro de Isaías, suas raízes são mais parecidas com a demonologia babilônica. Lilith era um monstro que atacava de noite, com a aparência de uma coruja. Ela gostava de caçar, e sempre procurava matar recém- nascidos ou mulheres grávidas. Lilith era a esposa de Adão antes de Eva, mas foi endemoniada por se recusar a obedecer Adão. (Ou, em outro ponto de vista, quis direitos iguais aos de Adão.) Naturalmente, ela foi considerada demoníaca por seus desejos radicais e se tornou uma vampira que eventualmente atacava os filhos de Adão e Eva, ou seja, seus descendentes humanos. Nós.

Referências sobre vampiros podem ser encontradas em muitos países, e alguns estudiosos acreditam que isso indica que foram criadas independentemente em cada país, e não passadas de um para outro. Cada um tinham suas particularidades.

Vampiros aparecem na Grécia, Roma e Egito. Os antigos gregos acreditavam em strigoi ou lamiae, que eram monstros que comiam crianças e bebiam seu sangue. Lamia, na mitologia, era a amante de Zeus, mas a esposa de Zeus, Hera, lutou contra ela. Lamia enlouqueceu, e matou seus próprios filhos. À noite, ela perseguia as crianças humanas para matá-las também.

Um conto conhecido tanto por gregos quanto por romanos, por exemplo, diz respeito ao casamento de um jovem chamado Menippus. No casamento, um convidado, que era um filósofo chamado Apollonius de Tyana, observou cuidadosamente a noiva, que era muito bonita. Apollonius finalmente acusou a noiva de ser uma vampira, e de acordo com a estória (que seria mais tarde contada por um estudioso chamado Philostratus) a mulher confessou ser vampira. Alegou-se que ela planejava se casar com Menippus meramente para ter sua riqueza e uma fonte de sangue fresco para beber.

Relatos vampíricos aparecem na antiga China, onde existiam monstros chamados kiang shi. Na Índia e no Nepal os vampiros também existiam, ao menos como lendas. Pinturas ancestrais nas paredes das cavernas mostram criaturas bebedoras de sangue; o "Lorde da Morte" nepalês é mostrado segurando uma taça em formato de crânio, cheia de sangue. Algumas dessas  pinturas nas paredes são de 3000 a.c. Rakshasas são descritos pelas antigas e sagradas escrituras indianas como "Vedas". Essas escrituras (cerca de 1500 a.c) desenham os rakshasas (ou destruidores) como vampiros. Também existia na Índia antiga um monstro chamado Baital, que, como um morcego, era desprovido de sangue próprio.

Outro povo antigo da Ásia, os Malaios, acreditavam num tipo de vampiro chamado "Penanggalen". Essa criatura consistia numa cabeça humana com tripas intestinais que deixavam o corpo e procuravam  por sangue alheio, especialmente de bebês. A criatura vivia por beber o sangue das vítimas.

Também é conhecido que os vampiros viviam no México, antes mesmo da chegada dos conquistadores espanhóis, de acordo com o renomado autor Montague Summers que em 1928 escreveu "The Vampire - His kith and kin". Ele dizia que os árabes conheciam os vampiros também. Tipos vampíricos apareceram nos "Contos das Noites Árabes", era chamado "algul", que era um zumbi que consumia carne humana.

A África, com suas religiões baseadas em espiritismo, também possuía lendas de tipos vampíricos. Uma tribo, a Caffre, acreditavam que os mortos podiam retornar e sobreviver bebendo sangue dos vivos.

No Peru também existiam essas lendas. Os canchus acreditavam que quem bebia sangue de jovens eram adoradores do Diabo.

Essas lendas vampíricas vindas de todas as partes do mundo e os medos antigos sobre morte e magia deram os poderes de sustentar a vida pelo sangue que envolvem os vampiros como os conhecemos hoje.

 

VAMPIROS INTERNACIONAIS

 

Na ilha caribenha de Granada, existe a Loogaroo. É uma mulher que, reza a lenda, fez um acordo com o diabo. Ela ganharia as habilidades mágicas apenas se desse sangue ao demônio todas as noites. O termo Loogaroo possivelmente vem da criatura mitológica francesa Loup-garou, que era um tipo de lobisomem, mas acreditam que o termo também foi misturado com Vudu africano.

A Loogaroo podia deixar sua pele e transformar-se em chamas que assombravam a noite procurando sangue para o demônio. Após pegar sangue suficiente, ela podia retornar à sua pele e voltar à forma humana. Essa criatura era aparentemente compulsiva e tinha que parar para contar grãos de areia espalhados no chão. Uma das defesas contra ela era deixar uma pilha de arroz  ou areia perto da porta de entrada. Esperáva-se que a Loogaroo perdesse muito tempo contando os grãos e o Sol aparecesse, forçando a criatura a voltar à sua pele e esquecer do ataque.

A Loogaroo é um exemplo de como uma crença vampírica pode ser resultante de uma combinação de outras - ela é uma combinação de Francês e Africano. A Loogaroo também mostra que nem todos os vampiros descendem dos povos eslavos, apesar de muitos parecerem que sim. Como os vampiros são encontrados em muitos lugares, naturalmente eles tem muitos nomes.

O termo vampir era usado na Rússia e em outras terras eslavas, como a Polônia e Sérvia. A palavra vampir possivelmente derivou da linguagem Magyar (Húngara) e também parece que a palavra russa significa "beber".

Vrykolakas eram o termo grego para vampiro. O vampiro grego era uma pessoa que fosse excomungada pela Igreja Ortodoxa.

Ekimmu era um espírito vampiro da Babilônia que se levantava da morte quando faminto, especialmente se os tolos humanos esquecessem de deixar comidas como sacrifícios perto de suas tumbas. Quando faminto ele retornava à Terra atrás de sangue humano.

Murony era o vampiro da Valáquia, um metamorfo e bebedor de sangue. Podia se transformar em gato, cão, insetos ou outras criaturas. Uma pessoa que morria inesperadamente era altamente suspeita de ser tornar um  vampiro. Mortes súbitas era assumidas como obras de vampiros. As vezes um grande prego era atravessado no crânio do defunto para evitar que ele voltasse da tumba. O Murony também se pareciam com lobisomens, um humano que podia se tornar um cão ou lobo de noite, e caçar outros animais.

Vampiros  lituânios aparentemente bebiam sangue. A palavra wempti significa "beber".

A palavra inglesa vampire (também escrita "vampyre") foi vista pela primeira vez no início de 1700. Sua exata origem é desconhecida. Sua raíz vem da palavra turca " uber", que significa "bruxa". Essa palavra passou por uma transformação em tons eslavos, e soou como "upior" ou "upyr", e  então resultou em "vampyre", "vampir" e então, "vampire".

Em sânscrito, o monstro era "Baital". Existem outros termos para esse monstro, do espanhol "vampiro", e Latim "vampyrus", para o inquestionável germânico "Blutsaeuger" (literalmente, sanguessuga) e o francês "Le Vampire".

"Nosferatu" é outro termo para vampiro vindo do leste europeu, ou ao menos se acredita nisso. É uma das mais curiosas palavras dos vampiros. O termo veio para o mundo com o irlandês Bram Stoker e seu livro "Dracula". Mais tarde, em 1922, a palavra volta com o primeiro filme sobre o maligno conde da Transylvania, chamado, é claro, de "Nosferatu".

A palavra nosferatu, porém, talvez não seja uma palavra eslava. E talvez nem seja uma palavra real de fato. David J. Skal, um moderno pesquisador de vampiros, acredita que a palavra nosferatu foi um erro ou alteração da palavra romana "nesuferit", que vem do Latim, e significa "não sofrer" ou mesmo "intolerável", palavras que descrevem uma personalidade vampírica agressiva. Parece que Bram Stoker descobriu a palavra enquanto fazia a pesquisa para seu livro Dracula. Ele aparentemente leu um conto de 1885 chamado Superstições da Transylvania por Emily Laszowska Gerard, onde ela usou o termo "nosferatu" ao invés de "nesuferit". Também é possível que "nosferatu" seja uma variante de "nesuferit".

Seja qual for a verdade, o termo "nosferatu" hoje é largamente usado para designar vampiros por que o diretor F.W.Murnau usou esse nome em seu filme de 1922.

Outra interpretação vem da autora Manuela Dunn-Mascetti, que diz que a palavra pode ser relacionada ao termo romeno "o impuro" - necuratul. As pessoas da Transylvania (que é o lugar situado entre os Montes Cárpatos da Romênia) crêem que num ser chamado nosferatu (ou vampiro) - um termo que tem conotação demoníaca.

 

VAMPIROS E A IDADE DAS TREVAS

 

Por toda a  história a lenda do vampiro foi sendo usada para "explicar" outros fenômenos naturais que os povos primitivos sem conhecimentos científicos não conseguiam explicar de outra maneira. Possivelmente a mais espantosa lenda foi a associação dos vampiros com a Peste Negra na Idade Média na Europa.

A Peste Negra, como era conhecida, na verdade era a Peste Bubônica espalhada por ratos e pulgas. A Peste (que, diferentemente dos vampiros, vieram do Oeste) matou 1/3 da população européia em 1300. O povo da época, porém, associou as mortes com os vampiros. De alguma maneira eles acreditavam que a morte "trabalhava" para os monstros; talvez os vampiros espalhassem a Peste, eles pensavam assim. Em alguns casos as pessoas acreditavam que um doente voltava da morte como vampiro e matava uma vítima (que morreria pela Peste). Alternadamente, acreditavam que um inimigo morto podia retornar e matar alguém, tornando-o um vampiro também. Muitas tumbas foram reabertas e os corpos "suspeitos" foram mutilados para "matar" os vampiros...

Alguns métodos da época beiravam o absurdo. Por exemplo, uma virgem era montada nua num cavalo, e o cavalo era obrigado a passear por entre um cemitério. Se o cavalo (que aparentemente, era mais inteligente que as pessoas) decidisse não passar por determinada tumba, eles assumiam que era uma tumba de vampiro. O corpo era imediatamente exumado e mutilado para "matar" o vampiro e, claro, também para parar a Peste que devastava a região.

Algumas das crenças mais idiotas envolviam métodos usados para matar vampiros ou parar a epidemia do vampirismo. É importante lembrar, porém, que essas crenças parecem idiotas HOJE, mas, na idade da ignorância, pessoas desesperadas eram muito suscetíveis ao poder das superstições.

Os corpos às vezes eram enterrados de bruços. Se o corpo se transformasse em vampiro, ele tentaria escavar para sair do seu caixão, e iria escavar o chão abaixo, pois olhava para o lado errado... Estacas de madeira às vezes eram colocadas no chão acima do caixão, e o corpo que se levantasse se espetaria sozinho nas estacas... com um pouco de sorte elas atravessariam seu coração.

Os corpos também, às vezes, eram enrolados em panos e roupas, para dificultar sua saída do caixão. E as pernas e braços eram amarrados com uma corda.

Pedras enormes também eram colocadas em cima dos caixões, para prevenir o retorno do defunto (talvez isso explique a origem das modernas lápides?). E é importante notar que os antigos povos acreditavam que o vampiro era um tipo de fantasma, que transcendia o caixão. Qual a melhor maneira de se manter um fantasma no caixão, do que selá-lo em pedra?

O processo natural da decomposição às vezes convenciam as pessoas de que defuntos podiam se tornar vampiros:

 

os cabelos e unhas continuavam a crescer( indicava a continuidade da vida);

o cadáver inchava pela ocorrência natural de gases no corpo, (indicava que ele se alimentava dos vivos);

sangue às vezes aparece nos cantos da boca como resultado da decadência do corpo (indicava que ele tinha bebido sangue);

a aparência grotesca de um cadáver decomposto e de pele pálida (indicava uma fome vampírica por sangue).

O povo ignorante também usavam das superstições para frustrar ataques  vampíricos. Duas das mais conhecidas substâncias utilizadas para se afastar os vampiros são o acônito, e, claro, o alho. Uma teoria popular durante a Idade Média acreditava que o cheiro horrível da morte era relacionado com a causa da morte, especialmente durante a Peste Negra, e que a morte tinha relação com os vampiros. Por isso, utilizavam das ervas para contra-atacar o cheiro da morte, e consideravam o aroma potente do alho. Também, durante as eras, o alho era usado como erva medicinal pelos antigos romanos. Ironicamente, a ciência moderna também acredita que o alho pode ajudar as pessoas a se recuperarem, em alguns casos.

As pessoas desenvolviam métodos estranhos quando o assunto era vampirismo. Alguns acreditavam que se um gato preto ou cão pulasse por cima de um corpo, ele se tornaria um vampiro. Em contos bucovinianos, uma estaca de madeira devia ser enfiada no peito dos que se suicidavam; pois o suicídio era uma das causas do vampirismo. Em muitas culturas, incluindo a antiga Inglaterra, as pessoas que cometiam suicídio eram enterradas em encruzilhadas para prevenir que o defunto voltasse como um vampiro.

Vários povos tinham vários métodos para destruir vampiros. Em algumas nações eslavas, uma estaca de madeira, atravessada no peito, matava a criatura - esse era o método favorito de todos, uma estaca através do coração. Em outros lugares, porém, a madeira usada tinha que ser de determinadas árvores. Por exemplo, madeira de carvalho fazia o trabalho na Silésia... enquanto madeira de espinheiro branco era requerida na Sérvia.

Além disso, as cabeças dos defuntos suspeitos de vampirismo era decapitadas. Às vezes, os corpos também eram jogados dentro de poços d´água ou queimados.

Essas crenças foram baseadas na ignorância geral da população, mas uma das maiores tragédias da lenda dos vampiros, foi a real ascendência da crença e do mito vampiro, que pode ter sido ajudada pelos feitos (crimes) da religião organizada.

A Igreja na Europa durante a Idade Média chegou a reconhecer a existência de vampiros e os transformou de mitos pagãos em criaturas do demônio. O vampiro teve sua credibilidade reforçada pela existência das doutrinas cristãs como vida após a morte, a ressurreição do corpo  e a "transubstanciação". Esse era um conceito baseado na Santa Ceia em que o "pão e vinho" durante a Comunhão que transubstanciou-se no sangue e corpo do Cristo.

A Igreja durante a Idade Média deu credenciais para a crença nos vampiros, e concluiu também que podiam parar o vampirismo, reforçando essa opinião dois séculos depois, em 1489 como o livro "Malleus Maleficarum" Esse livro foi escrito para se lidar com bruxas, mas também podia ser aplicado contra vampiros malignos. Infelizmente, muitas pessoas inocentes caíram vítimas desse documento, e foram torturadas e executadas. Esse livro, conhecido como "O martelo contra as bruxas na Inglaterra" foi utilizado para identificar e perseguir pessoas que supostamente faziam pactos com o diabo.

Dois séculos depois disso, a evidência de que a Igreja ainda acreditava em vampiros foi encontrada nos escritos do teólogo Leo Allatius. Como estudioso da Igreja, ele estudou os Vrikolakas, os vampiros gregos. Em um documento de 1645 ele conclui que alguns vampiros são resultados  da excomungação. A prova de vampirismo grego é a falta de decomposição do corpo, indicando que ele não pode deixar o plano terrestre. Um corpo inchado também era evidência de possível vampirismo. Como alguns corpos não se decompunham rapidamente, pela química do solo ou temperatura do ar, e também alguns inchavam pelo processo natural de produção de gases no organismo morto, muitos cadáveres foram erroneamente nomeados como vampiros. Em contra- partida, a incorruptibilidade - incapacidade do corpo de se decompor - era sinal de santidade do cadáver. A diferença era que o vampiro não apenas se decompunha, mas também ficava grotescamente pálido, enquanto que os "corpos sagrados" permaneciam perfeitamente intactos, como se ainda vivessem. E também, vampiros cheiravam muito mal, enquanto os corpos sagrados não.

Também existia uma crença comum entre os antigos cristãos gregos que um padre ou bispo que excomungasse um agente do mal preveniria o tal corpo da decomposição, uma vez que a alma não estava livre para ascender aos céus, e sim solta na terra para vagar até receber o perdão de seus pecados. Na Igreja do Ocidente essa crença também era seguida. Existiu o caso do Arquibispo de Brehme, no século X, Santo Libentinus. Ele havia dito que excomungou alguns piratas, e o corpo de um deles foi descoberto vários anos depois, sem sinais de decomposição. Aparentemente, é pedido o perdão dos pecados por um bispo antes que o corpo se dissolva em cinzas. Os clérigos eram capazes de fazerem ou matarem um vampiro através de absolvição e excomungação.

Leo Allatius  foi um dos primeiros estudiosos a declarar oficialmente que os vampiros eram crias do demônio e que eles rondavam as noites.

A prova de que a Igreja tinha poder sobre os vampiros (lembre-se de que vampiros fugiam de crucifixos e cruzes sagradas, se bem que os modernos vampiros são menos susceptíveis à esses símbolos) data desde a Inglaterra medieval. Um escritor chamado Willian de Newburgh discutiu o caso de um homem que morreu no séc XII a.C. Supostamente, ele se reergueu da tumba para desespero de sua esposa. Após causar muita confusão com os moradores do vilarejo e com os clérigos, o bispo da região perdoou por escrito todos os pecados passados do cadáver. O caixão foi aberto, e o documento foi colocado em cima do corpo do "vampiro". As pessoas ficaram surpresas - ou nem tanto - em ver que o corpo estava sem nenhum sinal de decomposição, provando o vampirismo. Mas, para a felicidade geral, assim que o perdão foi colocado no caixão, o vampiro desapareceu. Note que esse método de exorcizar o vampiro com um documento oficial da Igreja é bem mais sutil que os métodos utilizados na época, como a decapitação, queimar o corpo, arrancar o coração ou mesmo atravessá-lo com uma estaca de madeira.

Por volta de 1700 a universidade Sorbonne de Paris se oporia formalmente à prática comum de se mutilar corpos mortos para evitar os vampiros. A Sorbonne (onde o renomado escritor Voltaire uma vez ficou chocado ao ver uma discussão sobre a legitimidade do vampiro mitológico) finalmente tomou uma atitude aparentemente radical alegando que a prática de se mutilar corpos mortos era baseada em superstições irracionais.

A crença em vampiros, contudo, não seguia sem criticas inteligentes. Dom Agostine Calmet, um monge beneditino francês, escreveu um livro em 1746 que desafiava a questão da existência dos vampiros, chamado comumente de "O Mundo Fantasma". Calmet desafiava as superstições da época e pedia  provas antes da aceitação das lendas. Ele duvidava especialmente das proezas sobre-humanas dos vampiros, como voltar da morte. Ele também analisou e criticou as supostas "epidemias vampíricas" da Europa, questionando suas bases na realidade.

Então os séculos de ignorância e superstições deram a vez à Idade da Razão, e vieram os métodos científicos. Hoje a medicina pode provar que as pragas, como a Peste Negra, não foram espalhadas por demônios, nem vampiros metafísicos, mas de maneira bem física, diria microscópica, de maneira biológica.

 

O DEMÔNIO ROMÂNTICO

 

Marie Laveau, a famosa rainha voodoo de Nova Orleans, do século 19,  uma vez disse ser vampira. Não, ela não era. Mas um notável escritor do início de 1800, Lafcadio Hearn, disse que ela era - ao menos isso é o que especulamos. Ele provavelmente estava falando da filha dela, também chamada Marie, com quem ele propositalmente viveu. Então, Mister Hearn era um romântico. Nascido na Grécia (terra dos Vrykolakas), renomado como jornalista e escritor em Nova Orleans, onde se tornou familiar com a comunidade voodoo, Lafcadio caminhou pelo lado negro, com certeza. Mas suas alegações sobre Marie Laveau não eram de todas inacreditáveis.

No voodoo em Nova Orleans no séc. XIX, o sangue dos novatos era drenado, e segundo consta, bebido. Selvagens, alguns relatos falam de crianças sendo cozinhadas em caldeirões e então comidas. Isso não acontecia, mas algumas pessoas acreditavam nisso, exatamente como alguns acreditavam que os vampiros espalharam a Peste Negra na Europa.

Mas existiam razões para se chamar Marie Laveau de vampira (poderíamos dizer, uma... vamp?). Ela era tão sensual quanto sobrenatural. E não muito diferente de Laveau, os vampiros da velha Europa carregavam a mensagem subliminar do sexo consigo, quando se reerguiam dos caixões em busca de sangue.

A mente vitoriana podia ser confrontada com a subliminar sensualidade dos vampiros através da ficção do Dracula, mas, nos tempos antigos, existiam dois demônios que não eram tão sutis quanto ao propósito de suas visitas noturnas. Esses "demônios românticos" eram os íncubus e as succubus.

Pesadelos, sobre a ótica clássica da análise Freudiana, eram relacionados com ansiedade ou repressão sexual. Mas na Idade média, visões de demônios da noite que visitavam a cama de alguém eram inquestionáveis de que se tratavam do trabalho do íncubus (masculino) e da succubus (feminino). Os íncubus/succubus eram demônios que atacavam as pessoas durante o sono. Na noite a criatura paralisava a vítima e então começava relações sexuais com ela, contra a vontade da vítima, claro. Essa crença nesses demônios noturnos é explicada hoje como a racionalização da repressão sexual perpetrada pela opressão da Igreja, ao menos, por um ponto de vista. A lenda do vampiro não é muito diferente dos contos de íncubus/succubus, salvo a diferença que os vampiros bebem o sangue, ao invés de não manterem relações sexuais com suas vítimas.

Alguns diziam que uma succubus era essencialmente uma linda, porém demoníaca, metamorfa que assumia a forma feminina que mais agradasse a vítima masculina, na ânsia de reproduzir com ele pequenos demônios. Então, uma vamp! Outros diziam que uma succubus se transformava num íncubus quando transava com um homem, e voltava a ser succubus quando transava com mulheres, e por aí vai...

Os íncubus/succubus eram usualmente associados com a bruxaria. Um livro de 1584 chamado Descobertas da Bruxaria, de Reginald Scot falava do fenômeno íncubus/succubus e declarava ter visto um íncubus na cama de uma mulher. Por vezes, em outros casos, ele atribuía o demônio à imaginação. Mas basicamente alguém poderia, relutantemente, concordar em declarar que tinha tido relações sexuais com um íncubus/succubus, forçado por bruxaria. Mas assumir que tinha transado com o diabo ou com demônios era uma evidência de ser uma bruxa. E eles matavam bruxas.

É interessante notar que as pessoas acreditavam que existiam diferentes "classes" de demônios, alguns mais exaltados que os outros. Os íncubus/succubus eram inferiores na hierarquia dos demônios.

 

A CONDESSA DE SANGUE

 

Suposições para o mito vampírico podem ser encontradas historicamente, extrapoladas por alguns fatos extraordinários. Como o caso da "Condessa de Sangue".

Os modos da Condessa húngara do século XVI chamada Elizebeth Bathory poderiam rivalizar com as histórias de terror de qualquer país. Seus crimes eram malignos além da descrição, e às vezes ela parecia mais insana que o próprio diabo. Quando estava fazendo pesquisa para seu livro sobre vampiros, Bram Stoker encontrou um livro chamado "O livro dos Lobisomens" do Reverendo Sabine Baring-Gould. (autores Raymond McNally e Radu Florescu sugerem que o verdadeiro Dracula - sim, existiu um - pode ser relacionado à Bathory e o lado húngaro de sua família). Nesse trabalho foi descrito os modos sinistros da chamada Condessa de Sangue. E parece que essa estória, entre outras coisas, deu inspiração à Stoker para sua visão do Conde Dracula. E é fato que o primo de Elizebeth, Stephen Bathory, seria um dia proclamado príncipe na Transylvania.

Elizebeth era uma mulher bem-educada e esperta, mas possuía um vestígio de crueldade. Aparentemente temendo por sua mortalidade após a morte do marido, ela tornou-se sádica com seus criados e eventualmente buscava se não por longevidade, então ao menos pela eterna juventude de sua pele, banhando-se em sangue. Elizebeth aprendeu a arte da tortura com seu marido, um soldado acostumado a brutalizar os turcos prisioneiros de guerra. Bathory assassinou muitas mulheres, algumas vezes ajudada em seus métodos brutais por seus escravos (não muito diferente do Dracula ficcional, que comandava seus próprios servos para fazerem o trabalho sujo).

Bathory espancava suas vítimas e as mutilava também. Ela também congelava mulheres nas neves de inverno perto de seu castelo, chamado Csejthe, derramando água gelada nelas. Houveram também atos de canibalismo, como uma vez em que a Condessa mordeu várias vezes uma serva ainda viva. Também há relatos de que a Condessa literalmente se banhava em sangue de garotas virgens na esperança de permanecer sempre jovem. (Ainda que, ao menos uma das fontes diz que os tais "banhos de sangue" são mais ficção que realidade.) Mesmo assim, está muito claro que a Condessa húngara Elizebeth Bathory realmente existiu e que ela também cometeu tais crimes. Outra fonte diz que ela bebeu o sangue de 650 garotas, que também foram assassinadas.

Com a contagem de corpos crescendo, os servos de Bathory jogavam os corpos para fora do castelo. Quando o povo do local encontraram os corpos mortos, exangues, naturalmente eles pensaram em ataques de vampiros. O rumores se espalharam.

Em 1610 ela foi presa após tentativa de matar garotas de origem nobre; aparentemente ela foi acusada de bruxaria, não de vampirismo "per se". Mas as vítimas foram encontradas em seu castelo, todas elas sem sangue. O servo foi condenado à morte pelas autoridades e Elizebeth foi aprisionada no quarto em seu castelo nos Montes Cárpatos até sua morte, anos depois. As únicas evidências reais das atrocidades de Bathory foram recontadas em seus dois julgamentos em 1611 - porém como ela nunca foi liberada para aparecer pessoalmente na corte, apenas seu servo apareceu. Então, muitos mitos à respeito dela continuaram a aparecer. Mesmo hoje em dia, tem quem diz que pode-se ver o fantasma dela em sua terra natal, nos Cárpatos, vagueando pela noite... em busca de sangue!

A estória de Elizebeth Bathory demonstra como o mito do vampiro pode ser aumentado pela má interpretação das ações da vida real e de comportamento criminoso alimentado pela ignorância dos crentes.

 

DRACULA (o real)

 

Existem outras estórias escritas no séc.XIX sobre vampiros anteriores à obra de Bram Stoker. Existia "O vampiro" de John Polidori, em 1819, com seu personagem vampiro herói/vilão Lord Ruthven, que era na verdade modelado a partir do famoso poeta Lord Byron. Como produto da mesma safra de escritos que tinha também Frankenstein, de Mary Shelley, Polidori desenvolveu um conto assustador de vampiro baseado em sugestões de Lord Byron. Alguns crêem que o próprio Byron escreveu a estória, mas não é o caso... Polidori o escreveu.

Então veio Carmilla, escrita em 1872 por um irlandês chamado Joseph Sheridan Le Fanu; sem dúvida que esse trabalho influenciou o trabalho de Stoker. Porém, no conto de Fanu, a vampira é uma mulher.

Houve também uma ficção inglesa de 1847 chamada "Varney, o vampiro". Era um autêntico conto de terror da época, mas de qualidade questionável.

O Dracula de Bram Stoker, porém, é o melhor dos contos de vampiros. Hoje, mais de um século após sua criação em 1897, Dracula ainda é um arquétipo de vampiro. Porém, existem na verdade dois Draculas. Um é fictício, o de Stoker. O outro é real. Ele foi conhecido como Vlad, O Empalador, ou - como seu pai chamava-se Dracul (que significa dragão, ou demônio) - ele era também conhecido como Dracula, que significa "filho de Dracul".

Vlad Dracula era um príncipe romeno real que viveu no séc. XV e era notável por suas campanhas militares contra os turcos. Na Romênia, ele até hoje é um herói. (Aliás, o exército romeno atual o homenageou batizando o moderno helicóptero de assalto de AH1 RO-Dracula.) Vlad tinha também prazer em assassinatos em massa e sua forma favorita de matar inimigos era empalando-os. Era como uma espécie de crucificação, mas ao invés de erguer a vítima em uma cruz, a vítima era empalada, de baixo para cima por uma longa lança de madeira. Em outras palavras, a estaca era enfiada no corpo verticalmente. O corpo então era mostrado à Vlad Dracula, que se deliciava em almoçar em meio à uma floresta de corpos empalados. Alegam que Vlad matou certa vez 20.000 turcos dessa maneira e os colocou enfileirados, como espantalhos, para assustar seus inimigos. Vlad não tinha limites para suas técnicas de empalamento. Ele também gostava de cozinhar suas vítimas e cortar-lhes as cabeças.

Se Vlad Dracula era um verdadeiro vampiro, não parecia. Mesmo assim, de acordo com as contagens recentes de Dracula (McNally e Florescu em "Busca por Dracula"), Vlad realmente usava o sangue de suas vítimas como molho para suas refeições, onde mergulhava seu pão. Isso foi dito também no documento chamado "A história do sanguinário maluco chamado Vlad da Valáquia", escrito em 1463 e somente descoberto recentemente. Então, após tudo isso, é possível que Vlad gostava de consumir sangue humano.

Influenciado pelo Vlad Dracula, o vampiro que Bram Stoker criou era mais baseado, e, francamente, mais feio do que os vilões das filmagens típicas. Como já foi dito, o filme alemão de 1922 "Nosferatu" mostra Dracula como Bram Stoker gostaria que ele fosse. Lembre-se de que os vampiros, de acordo com as lendas, são essencialmente feios, fedidos... apenas corpos não decompostos; Stoker e o filme de 1922 seguiram essa tradição do "vampiro grotesco", que se diferencia das suaves e sensuais versões modernas do mito.

 

VAMPIROS DESMISTIFICADOS

 

Do mundo paranormal, vem uma possível explicação para os vampiros aterrorizarem a terra pela noite, mas voltarem para seus caixões durante o dia: pode ser o fenômeno da projeção astral. Isso acontece quando a contraparte de um corpo físico viaja para o plano astral, o plano de existência logo acima de nosso tridimensional mundo material. O corpo astral pode deixar o físico numa experiência "fora do corpo" e viajar por aí. (no caso do vampiro, em busca de sangue)

Junto com os psicóticos assassinos ocasionais que acham que são vampiros e os cultistas modernos que pretendem ser vampiros, existem algumas bases científicas para o que "aparentemente" é o vampirismo. Daniel C.Scavone delineou muitas dessas "possibilidades" em seu livro "Vampiros", de 1990.

Alguns escritores atuais teorizam que provavelmente algumas pessoas que foram acusadas de vampirismo no passado na verdade sofriam do distúrbio médico chamado hoje em dia de  PORPHYRIA. O corpo das pessoas nesse estado não produzem hemoglobinas (glóbulos vermelhos) suficientemente. Essa disfunção podia causar alguns "sintomas" que os povos ignorantes da Idade Média concluíam como casos de vampirismo. Desnecessário dizer que as pessoas acometidas pela porphyria não se tornavam vampiros; a teoria da porphyria (elaborada por McNally e Florescu em seu "Busca por Dracula") aparece meramente como uma tentativa de explicar as crenças irracionais dos ignorantes.

Outra disfunção que poderia causar suspeitas nos povos antigos era a anemia extrema. Nesses casos, o paciente tem poucos glóbulos vermelhos e hemoglobina. Um dos sintomas graves da disfunção é a pele pálida - claramente um sinal de vampirismo, diriam os ignorantes.

Catalepsia é outra condição médica que pode se passar por "vampirismo". O paciente sofre uma forma de paralisia temporária e parece estar morto. E é muito possível que várias pessoas foram enterradas vivas com catalepsia. A pessoa nesse estado mantém sua visão e audição, mas, incapaz de mover um músculo sequer, ela fica impossibilitada de pedir ajuda. Se a pessoa sai desse estado de paralisação antes de um enterro prematuro, o resultado pode ser confundido com caso de vampirismo. Imagine uma testemunha assistindo um "cadáver" lutando para se libertar de seu caixão... Qualquer um que não conhecesse a catalepsia (a maioria das pessoas) temeria por sua vida e gritaria que estava vendo um vampiro voltando da morte!

Existem vários outros distúrbios do sangue ou da mente que podem alimentar as lendas antigas do vampirismo. Várias doenças de pele ou outras desfigurações poderiam fazer os antigos povos a acreditarem estar vendo um vampiro.

Então aí está o fator psicológico. Se a população já acreditava no mito do vampiro, pois eles já transmitiam o mito como fato, e se a população não sabia nada de ciência, então, como nós esperaríamos que eles explicassem esse fenômenos? A crença do vampiro cresceu por falta de explicações. A ignorância e o medo reforçaram o mito baseado na superstição.

Qualquer que seja o fato, que os vampiros são seres sobrenaturais (pouco provável) ou lendas baseadas em alguns fatos não relatados (possível) ou puras fabricações da fantasia misturada com superstição (altamente possível), a imagem popular do vampiro é um reflexo dos sinais dos tempos. Ver um vampiro pelo prisma de qualquer período da história humana pode ser um teste Rorschach para nossa sociedade, revelando mais sobre nós mesmo do que sobre os vampiros.